Bolívia inaugura laboratório com tecnologia utilizada pela NASA

Laboratório PRIAS fará análise de carbono no solo com processos simplificados que poupam tempo, reduzem gastos e aumentam a precisão dos resultados

A Bolívia acaba de ganhar um laboratório de análise do solo com tecnologia LIBS (espetroscopia de decomposição induzida por laser), a mesma utilizada pela NASA para estudar a superfície de Marte. Inaugurado em maio de 2024, na cidade de Santa Cruz de la Sierra, o laboratório realizará medições de carbono e de biomassa do solo de propriedades rurais da região de forma rápida e precisa. A iniciativa será o principal legado do projeto Práticas Regenerativas Inovadoras para uma Agricultura Sustentável (PRIAS), resultado da parceria entre a Fundação para Conservação do Bosque Chiquitano (FCBC), da CREA Bolívia e da Conservation Strategy Fund (CSF), com assistência técnica e financeira do Land Innovation Fund.

Na América do Sul, 70% da vegetação nativa convertida em área produtiva é utilizada para pastagem e 20% para agricultura, principalmente para o cultivo de soja (FAO, 2000) e outras commodities agrícolas. A Bolívia acompanha a tendência regional, com alto índice de conversão do solo para serviços agropecuários. Com o laboratório PRIAS, a proposta da FCBC é fazer do local um centro de referência em análise do solo visando a implementação de práticas regenerativas para recuperação de áreas degradadas e aumento da produtividade no campo, em mais um esforço para conter o avanço da fronteira agrícola no país.

“O solo é um recurso natural fundamental para geração de vida, por isso é essencial restaurá-lo ou recuperá-lo o mais rapidamente possível. A agricultura regenerativa utiliza princípios agrícolas concebidos para imitar a natureza, a fim de estabelecer solos saudáveis e sistemas agroecológicos férteis”, explica Hermes Justiniano, assessor estratégico da Fundação para Conservação do Bosque Chiquitano (FCBC) e coordenador do projeto no país.

O laboratório PRIAS será um importante legado para o desenvolvimento da agricultura regenerativa na Bolívia e permitirá ainda a entrada do produtor local no mercado voluntário de carbono internacional. “A iniciativa é de inegável importância e impacto no cenário agrícola do país, em diálogo com a demanda global por uma produção de alimentos alinhada a práticas sustentáveis e de baixo carbono no campo”, atesta a diretora do Land Innovation Fund, Ashley Valle.

Tecnologia da NASA em solo boliviano:

A tecnologia LIBS utilizada no laboratório PRIAS permite uma análise do solo sem reagentes químicos e com processos laboratoriais simplificados que poupam tempo, reduzem gastos e  aumentam a precisão dos resultados. Cada amostra recebida para análise é registrada, ensacada, seca, peneirada, moída e depois processada. O laboratório tem capacidade para receber 200 amostras por mês para avaliação microbiológica e 250 amostras por mês para análise LIBS com mensuração de carbono.

O Laboratório é o único da Bolívia capaz de efetuar análises de biomassa microbiana, foliar e radicular, importantes para monitorar as alterações na capacidade das culturas para fixar carbono nos solos. “Outros laboratórios realizam apenas análises químicas dos elementos disponíveis nas plantas, enquanto o PRIAS pode avaliar também as entradas de matéria orgânica das culturas regenerativas e do impacto da integração com a pecuária no solo”, explica Verônica Oller, profissional responsável pela análise microbiológica no PRIAS.

A medição de carbono é feita por espectrometria de decomposição induzida por laser (LIBS) em cinco pontos de parcelas experimentais e em dois pontos de parcelas de controle na propriedade rural, em duas profundidades de solo diferentes. Com as amostras coletadas em campo, também são obtidos resultados para a presença total de nutrientes equivalentes a uma análise clássica obtida por métodos químicos. Com esta técnica, no entanto, é possível avaliar muito mais amostras de solo em menos tempo e com menor custo, se comparado à metodologia tradicional.

O projeto PRIAS:

Um dos projetos selecionados na terceira rodada de financiamento do Land Innovation Fund, a iniciativa coordenada pela FCBC fomenta práticas de agricultura regenerativa e de baixo carbono em propriedades de soja e gado no leste da Bolívia, zona de transição entre as ecorregiões Chiquitano, Chaco e Amazônia que sofre com o avanço da fronteira agrícola.  A proposta é aumentar a produtividade das áreas de cultivo e reduzir o desmatamento com a aplicação e a disseminação de conhecimento técnico sobre práticas sustentáveis.

Até o momento, participam da iniciativa 43 propriedades rurais, totalizando uma área de mais de 120 mil hectares em seis municípios da região de Santa Cruz. As atividades de agricultura regenerativa já foram iniciadas em mais de 400 hectares de área-piloto, entre propriedades agrícolas e de pecuária. A proposta é disseminar os conhecimentos alcançados com os experimentos e escalar os resultados para o restante da área cultivada da propriedade, contribuindo para melhoria progressiva do solo, para o aumento da retenção de carbono e o incremento da biodiversidade.

 

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