Estudantes do interior do Tocantins iniciam o ano com oficina de restauração ecológica
Resultado da parceria entre a Agroicone e a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Tocantins, com o apoio do Land Innovation Fund, a iniciativa é parte de um projeto de fomento à criação de uma agenda de restauração de vegetação nativa em larga escala na região do Matopiba.
No município de São Salvador, no Tocantins, 36 estudantes do ensino médio do Colégio Estadual Família Agrícola José Porfírio de Souza (CEFA) iniciaram o semestre com uma atividade que os levou dos bancos escolares para o campo: uma oficina de capacitação técnica sobre restauração ecológica com fins econômicos, com aulas teóricas e práticas sobre conceitos, vantagens, dificuldades e processos para implantação de Sistemas Agroflorestais (SAF). A atividade dá continuidade ao projeto realizado pela Agroicone, com apoio do Land Innovation Fund, para identificar os principais desafios e oportunidades para a restauração em larga escala no Matopiba (fronteira agrícola entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), além de apresentar um benchmarking inédito de políticas realizadas em outros estados do país. Intitulado “Políticas públicas inovadoras para a conservação e restauração da vegetação nativa em terras privadas do Matopiba”, o levantamento foi realizado a partir de uma série de reuniões com as Secretarias de Meio Ambiente de cada estado da região e apontou, entre outros pontos, a necessidade de disseminação de conhecimento técnico, o incentivo à produção de mudas e coletas de sementes, o estímulo de plantios com finalidade econômica, como alguns dos caminhos possíveis para ampliar o alcance e a relevância de ações de restauração no país.
Com cerca de 3 mil habitantes e 400km de distância de Palmas, capital de Tocantins, o município de São Salvador fica em área de forte participação de agricultura familiar, com potencial para o desenvolvimento agrícola sustentável. Ao longo de três dias, profissionais das áreas agrícola, florestal e ambiental ministraram oficinas para estudantes do 9º ano do Fundamental II e do Ensino Médio, com o apoio da equipe de educadores do Colégio CEFA. Com a atividade, os alunos puderam realizar o plantio de um hectare em terreno dentro da escola, contribuindo para recuperação da área e para a produção de alimentos que serão consumidos no ambiente escolar. Entre as espécies plantadas estão frutíferas como mangaba e banana, além de baru, açafrão e mandioca.
A oficina pretendeu demonstrar, na prática, os benefícios de um sistema agroflorestal – forma de uso e ocupação do solo em que espécies nativas são plantadas em associação com culturas agrícolas em uma mesma área, garantindo simultaneamente a produção de alimentos e a conservação e restauração ambientais. A pesquisadora da Agroicone, Bruna Córdova, acompanhou as atividades: “Os resultados foram acima de nossa expectativa, com forte engajamento dos alunos no aprendizado e no plantio. Eles participaram com entusiasmo e contribuíram para o sucesso da implantação do SAF, aproveitando a oportunidade para se apropriar dessa técnica”, afirma.
O modelo de capacitação escolhido para a atividade no CEFA foi inspirado no projeto Campo Sustentável, coordenado pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Tocantins (Semarh) e pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), e com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com objetivo de viabilizar novos modelos produtivos e de uso da terra para o Tocantins, com maior foco nos sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta.
Para a engenheira ambiental da Semarh, Thaiana Brunes, a atividade de capacitação técnica contribui para a restauração no Cerrado, pois os estudantes poderão atuar como disseminadores dos sistemas agroflorestais. “Esses alunos saem da escola com outra visão sobre o meio ambiente e levam o aprendizado para as famílias e para os locais de trabalho, principalmente porque a maioria são produtores rurais. O projeto terá um papel fundamental no desenvolvimento social, incluindo comunidades quilombolas, pequenos produtores familiares e mulheres na capacitação”, afirma.
Crédito: Making Studio Pro; Bruna Cordova; Alunos Colégio Estadual Família Agrícola José Porfírio de Souza. Imagens cedidas pela Agroicone.
PANORAMA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O MATOPIBA:
A proposta de realizar a oficina de restauração ecológica surgiu com o resultado do amplo mapeamento realizado pela Agroicone, com o apoio do Land Innovation Fund, para a produção do “Panorama de políticas públicas para a restauração da vegetação nativa do Matopiba”. O estudo contempla o levantamento de 58 políticas relacionadas com restauração ecológica realizadas em todas as regiões do Brasil, por governos, algumas em parcerias com organizações privadas e organismos internacionais, realizadas em 15 estados do país, além do Distrito Federal. Reunidas de maneira sistematizada pela primeira vez, com descrição e análise, as iniciativas vão desde políticas abrangentes até projetos e normativas específicas.
Após uma série de reuniões com as Secretarias de Meio Ambiente do Maranhão, Tocantins e Bahia – estados que compõem a fronteira agrícola do Matopiba -, identificou-se que praticamente todo o conhecimento acumulado sobre restauração ecológica no país foi formulado para a Mata Atlântica e para formações florestais. Análises para o bioma Cerrado são mais recentes, e ainda estão em desenvolvimento. Faltam informações quantitativas consolidadas sobre o tamanho e a abrangência de ações de restauração na região, além de materiais de apoio prático para capacitação de agentes e adaptação de práticas e métodos realizados em outras regiões para as necessidades do bioma.
“Identificamos um gargalo de conhecimento e formação técnica de restauração ecológica ajustada às necessidades do Cerrado. Em conversa com a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Tocantins (Semarh), nossa parceira nesta atividade, chegamos ao modelo de uma oficina de capacitação técnica para os alunos do ensino médio, que pode ser desdobrada e levada a outras escolas da região, formando multiplicadores de práticas agrícolas sustentáveis”, afirma Laura Antoniazzi, sócia e pesquisadora sênior da Agroicone.
O projeto dialoga com os princípios e desafios traçados pela ONU para a Década da Restauração de Ecossistemas, e com o compromisso assumido pelo Brasil no Acordo de Paris para restaurar 30 milhões de hectares de terra e garantir a redução das emissões de carbono em 43% até 2030. “Queremos contribuir para a criação de uma agenda de restauração no país, e para o entendimento da importância da questão para a pauta internacional de conservação ambiental”, afirma o Diretor do Land Innovation Fund, Carlos E. Quintela.
Resultado de um aporte inicial da Cargill e com gerenciamento a cargo da Chemonics International, o Land Innovation Fund apoia iniciativas que promovam uma cadeia produtiva da soja sustentável, livre de desmatamento e conversão de vegetação nativa, e que gerem impacto econômico e socioambiental positivo em áreas agrícolas de três biomas prioritários na região: Cerrado, Gran Chaco e Amazônia. O Fundo fomenta inovações que gerem aumento de produtividade por meio de práticas sustentáveis, mecanismos e abordagens que incentivem produtores a conservar e restaurar florestas e vegetações nativas e ações capazes de mobilizar redes e recursos em prol da transformação da cadeia produtiva da soja.
A Agroicone é uma organização que gera conhecimento e soluções para transformar a agropecuária brasileira diante dos desafios globais do desenvolvimento sustentável. Atua em cinco áreas estratégicas: i) comércio internacional e temas globais; ii) sustentabilidade e inteligência territorial; iii) políticas públicas; iv) negócios, mercados e financiamento; e v) tecnologias em cadeias agro. A Agroicone é formada por uma equipe multidisciplinar, com vasta competência nas áreas econômica, regulatória/jurídica, territorial, socioambiental e de comunicação.